domingo, 5 de junho de 2011

O desafio de Ciro

O que quer Ciro Gomes (PSB)? Quais seus objetivos na política atualmente? Difícil dizer. Depois de longos mergulhos, Ciro ressurge, solta suas críticas habituais contra tudo e contra todos e pronto, vira manchete de portais da internet, página inteira de jornais, destaque de telejornais. Seu carisma de fato impressiona e a forma como todos, hipnotizados, se submetem a esse seu poder de sedução, ainda mais.

Mas será que esse poder de retórica significa que Ciro Gomes mantém intacto seu capital político, mesmo depois de tanto tempo sem disputar eleições e sem ter uma atuação definidora na cena política brasileira ou cearense? Uma das formas de obter essa resposta é observar os resultados das eleições de 2008, quando Ciro se afastou de seu irmão Cid Gomes (PSB) na disputa pela Prefeitura de Fortaleza. Cid, em nome da coerência e da lealdade, apoiou a reeleição de Luizianne Lins (PT), enquanto Ciro ficou ao lado de sua ex-mulher, Patrícia Saboya (PDT). Luizianne venceu no primeiro turno.

Ao escolher se afastar da política cearense e abrir espaço para seu irmão caçula, Ciro automaticamente transferiu parte de seu capital político para Cid – o que significa que Cid agora concentra o poder de decisão de seu grupo político-familiar, ao mesmo tempo em que detém grande confiança da maioria do eleitorado, o que antes era dedicado sobretudo a Ciro. Por outro lado, isso não significa que Ciro tenha perdido sua importância na política cearense. Pelo contrário. Ele cumpre um papel estratégico sobretudo para facilitar a atuação de seu irmão.

Isso porque Ciro funciona como uma espécie de alterego de Cid, preservando-o de se expor demais em determinadas situações, ao mesmo tempo em que atua fortemente para desconstruir seus adversários, com forte poder de fogo para isso. Um exemplo aconteceu nos últimos dias: não foi Cid, mas Ciro quem apareceu para criticar a prefeita Luizianne não apenas sobre os buracos da cidade – o que ele considera até secundário –, mas principalmente sobre as notas obtidas pelas escolas do município no Spaece, avaliação realizada pelo Governo do Estado (do governador Cid Gomes) nas escolas públicas de ensino fundamental. Entre os 184 municípios do Estado, Fortaleza obteve a quarta pior nota.

Calado, Cid evita novos choques com Luizianne, tendo em vista que ainda são aliados. Ao mesmo tempo em que, com Ciro à frente das críticas, o grupo dos Ferreira Gomes demarca seu espaço, diferenciando-se da prefeita, e enfraquecendo-a ainda mais, já que é simplesmente Ciro Ferreira Gomes, o ex-ministro, o ex-governador, o ex-prefeito, o irmão do governador, quem a está atacando. Não é pouca coisa.

E Ciro, nessa sua última aparição em Fortaleza, na última segunda-feira, prometeu que irá participar sim do processo eleitoral na cidade no ano que vem. Só não disse como. Impedido de disputar a prefeitura por causa do grau de parentesco com o governador – a legislação eleitoral traz essa limitação –, Ciro deve ser novamente um forte cabo eleitoral. Só que, ao contrário de 2008, ele agora deve ficar ao lado do irmão, em busca não só de eleger o sucessor de Luizianne, mas também para fortalecer seu grupo político como um todo em Fortaleza. A última vez que alguém do grupo comandou a capital cearense foi em 1988, com o próprio Ciro. Também foi o único momento em que o mandatário do Estado (na época, Tasso Jereissati, do PSDB) teve poder também sobre Fortaleza.

Como educar bem?
Melhorar a educação pública em tempos de universalização do ensino não é tarefa fácil. Para isso, milhões e milhões de reais são investidos todos os anos para incrementar escolas, melhorar o material didático, construir bibliotecas. Mas será que só melhorar a infraestrutura desses locais basta? Na última semana, logo após a divulgação dos resultados do Spaece, a TV O POVO, onde sou editora-chefe do jornalismo, mostrou como é uma escola considerada nota 10. E, como contraponto, foi a outra, que teve uma das piores avaliações do Estado. Na primeira, paredes descascando, carteiras antigas, algumas até quebradas. Mas crianças do segundo ano do ensino fundamental lendo e escrevendo perfeitamente.

Na segunda, uma escola reformada, com ampla biblioteca, carteiras novas e confortáveis para todas as crianças. Mas alunos do sexto ano do ensino fundamental que mal conseguiam ler. Alguma coisa está realmente errada e começa pelo que os professores estão cansados de repetir: a não valorização dos docentes. Não adianta condenar seus protestos ou a greve que protagonizam há mais de um mês: enquanto eles não forem ouvidos, na maioria das vezes, infelizmente, vão fingir que ensinam, enquanto as crianças vão fingir que aprendem, por total insuficiência de tempo para dedicar o empenho necessário para superar as dificuldades de cada aluno.

Kamila Fernandes
kamilafernandes@opovo.com.br

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